Assassinato de crianças. Crimes praticados por adolescentes. Filha que encomenda a morte dos pais. Execução sumária de ex-prefeito. Nunca a violência em Goiás esteve tão escancarada. Nem chegamos na metade do ano e a Capital já caminha para bater o recorde de assassinatos.
Por isso o aumento do índice de violência tem provocado ações imediatas nos parlamentos, Poder Judiciário e entidades civis. O índice de violência em Goiânia é o mais alto dos últimos oito anos. Até maio, os assassinatos já se aproximaram da marca dos 200. Mais de uma pessoa morre por dia vítima de assassinato.
Na noite de quarta-feira, 28, o ex-prefeito de Goiás, o médico Boadyr Veloso, 70, e o corretor de imóveis Allan Kardec dos Santos foram executados na Capital. A violência também se manifesta com o crescente número de pessoas detidas e presas por uso e tráfico de drogas. Há duas semanas, o menor Victor Miranda, 16, morto sob a ponte da T-9, foi vítima do tráfico. Goiânia está se tornando refém da violência, que causa medo na população, que se esconde em casas equipadas com grades de proteção e outros métodos de segurança. DivergênciaO Ministério Público de Goiás acredita na existência de um grupo de extermínio. No entanto, autoridades policiais descartam a possibilidade.
“Goiânia é uma das capitais mais bem policiadas do País”, afirma o secretário de Segurança Pública, Ernesto Roller, que está em Manaus (AM), onde participa de encontro do Conselho Nacional de Segurança Pública.Segundo ele, os órgãos de Segurança Pública estão atentos às estatísticas e que todo o trabalho preventivo está sendo realizado de maneira eficiente, com operações diárias no combate à criminalidade. Roller diz também que 350 viaturas estão 24 horas a serviço da população goianiense. Ele aponta que as mortes acontecem em Goiânia em virtude do tráfico de entorpecentes. “As drogas são as principais causas de mortes. Não acreditamos em grupo de extermínio. Dizer isso é criar uma cortina de fumaça”. Ele discorda da sensação de que a violência está aumentando na Capital e demais regiões do Estado. Argumenta que o crime de homicídio é praticamente impossível de evitar.“Goiânia é segura e bem policiada e continuamos trabalhando para que isso se mantenha”
.Já a promotora Alice Almeida, do Centro Operacional Criminal do MP, discorda da manifestação tranqüilizante do secretário. Ela acredita numa possível ação de extermínio na Capital, pois muitos assassinatos apresentariam características semelhantes. Estes crimes ocorreriam com uma série de coincidências: uso de armas de fogo, matadores motoqueiros, vítimas apresentadas com potencial envolvimento em uso e tráfico de drogas, assassinatos com tiros certeiros, semelhante às tradicionais execuções. “Enquanto as autoridades policiais não reconhecerem que uma ação de extermínio existe em Goiânia, os crimes não serão elucidados. Estamos cobrando investigações que realmente solucionem os fatos. Isso também iria desmitificar a especulação de que policiais estejam envolvidos nesses crimes”, diz a promotora.SemelhançasO corretor de imóveis Allan Kardec dos Santos, 46, foi morto na porta de sua residência. Um motociclista teria parado e disparado vários tiros, acertando-o no tórax. O crime aconteceu por volta das 20 horas, na Alameda Dom Pedro I, no Setor Faiçalville. A vítima foi baleada dentro de seu veículo, um Audi A3. O delegado Carlos Raimundo disse que não foi constatada nenhuma relação entre este delito com o assassinato do prefeito de Goiás, embora tenham formas semelhantes.
Raimundo informa que os bandidos descobriram que é fácil cometer homicídios sobre duas rodas, poir isso tenta-se relacionar tal semelhança com grupos de extermínios, o que, segundo o delegado, não existe. Ele afirma que em Goiânia só corre perigo de vida quem está infiltrado no mundo das drogas ou envolto em práticas ilícitas, pois, na maioria das vezes, foi constatado que as vítimas de homicídios tinham envolvimento direto com uso e venda de drogas
