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domingo, 29 de junho de 2008

Coincidências marcam tiroteios


Edição: 671 Data:29/06/2008
Coincidências marcam tiroteios
Gustavo Ponciano

Os dois assaltantes suspeitos de matar um escrivão da Polícia Federal (PF) e um soldado da Polícia Militar (PM) em assaltos nos dias 18 de abril e 12 de junho, mortos em supostas trocas de tiro com a polícia, foram baleados nas costas, segundo laudos do Instituto Médico Legal (IML) aos quais a reportagem do HOJE teve acesso. Os dois acusados de latrocínio chegaram ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) já sem vida.As coincidências entre os dois casos não param por aí. Antes de chegarem ao Hugo, os suspeitos foram transportados por viaturas das corporações policiais com as quais teriam trocado tiros e as ocorrências que registram as duas mortes, com as quais serão instaurados os inquéritos, passaram por peregrinação antes de chegarem, na tarde da última terça-feira, às delegacias responsáveis pelas investigações.


Victor André Ferreira Portela, 20, apontado como um dos autores do latrocínio em uma casa irregular de caça-níqueis, em Campinas, que vitimou o soldado da 1ª Companhia Independente da Polícia Militar (1ª CIPM) Valdivino Machado Rodrigues, 38, no dia 12 de junho, foi morto em suposta troca de tiros no quintal de uma residência vizinha à casa de sua namorada, no Jardim das Oliveiras, em Senador Canedo.Victor, que havia sido baleado no pé direito durante o assalto, levou outros cinco tiros durante a operação da PM. Um disparo o acertou no meio do peito e saiu pelas costas; as coxas do acusado foram atingidas cada uma por um tiro; outros dois projéteis o atingiram por trás – um entrou no meio das costas e saiu na altura da cintura, do lado direito, e outro entrou acima das nádegas e ficou alojado. Esse projétil foi recolhido e encaminhado ao Instituto de Criminalística.


O laudo referente a Victor ainda não foi concluído, mas os locais de entrada e saída dos projéteis já foram apontados pelo médico legista.100 POLICIAIS O major Sérgio Ricardo Caetano, comandante da 1ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM) e responsável pela operação em que Victor foi morto, afirma que 50 viaturas e aproximadamente 100 policiais participaram do cerco a Victor.


O comandante do policiamento da Capital, coronel Cézar Pacheco de Araújo, diz que o contingente empregado na ação é natural, já que a PM está bem equipada e que o número também é uma forma de evitar o confronto. Segundo Caetano, os militares atiraram depois que o suspeito efetuou um único disparou de um revólver calibre 38 com numeração raspada. A arma usada no assalto que matou o soldado da PM é uma pistola calibre 380, ainda não localizada.De acordo com o major, os cinco disparos que atingiram o suspeito estão dentro da normalidade, porque Victor atirou em direção a uma formação policial constituída para entrar no quintal da casa em que ele estava escondido, junto a um muro. Do local, afirma Caetano, o acusado foi colocado dentro de uma viatura da PM para ser levado até a UR-52 dos Bombeiros, que, segundo ele, estava do outro lado do quarteirão. De acordo com a ocorrência 496569 do Corpo de Bombeiros, Victor chegou morto ao veículo de socorro. Sua morte foi constatada no Hugo às 22h36.Caetano diz que quatro policiais prestaram depoimento na Corregedoria da PM e entregaram suas armas, ainda no dia 12. O corregedor, coronel José da Rocha Cuelho, afirma que o inquérito policial militar corre em sigilo e que por isso não pode confirmar as informações prestadas pelo comandante da 1ª CIPM. A morte de Victor foi registrada no Posto da Polícia Civil do Hugo. De lá, a ocorrência foi encaminhada à 1ª Delegacia Regional de onde o delegado Adailton de Souza Medrado remeteu para a Delegacia de Homicídios, apesar de o fato ter ocorrido em Senador Canedo. Na tarde de ontem, o caso foi enviado à delegacia da cidade do interior.


25 MINUTOS PARA PERCORRER 3 KMWilson Jesus de Souza, 33, apontado como um dos responsáveis pelos disparos que mataram o escrivão da PF José Júnio Nascimento, 47, em tentativa de assalto na madrugada do dia 18 de abril, na Rua S-5, no Bela Vista, foi baleado duas vezes por agentes da PF em operação no dia 11, segundo laudo: um tiro transfixou seu braço esquerdo, de cima para baixo. O projétil entrou pela parte posterior do braço, ou seja, Wilson estava de costas para a pessoa que o atingiu.O segundo disparo acertou Wilson na região lombar esquerda, nas costas, pouco acima da cintura, e se alojou próximo à coluna cervical. Esse tiro é responsável pela hemorragia abdominal maciça que matou o suspeito. De acordo com o delegado da PF Ires João de Souza, o fato de Wilson ter sido baleado pelas costas pode ser explicado pela possível movimentação do acusado, que estaria disparando um revólver calibre 38 e fugindo ao mesmo tempo.Segundo informações da PF, o acusado chegou à casa de um de seus comparsas, Gaspar Gonçalves Reis, 21, na Rua 1098, Setor Pedro Ludovico, às 17h40 do dia 11 de junho. Na ocorrência registrada por um perito criminal da PF no Posto da Polícia Civil no Hospital de Urgências de Goiânia, a suposta troca de tiros ocorreu às 18h30. A morte de Wilson foi registrada no momento de sua entrada no Hugo, às 18h55, segundo o relatório do hospital ao IML. Portanto, a viatura da PF levou 25 minutos, desde o evento na Rua 1098, para chegar ao Hugo, que fica a 3 km da casa de Gaspar, e lá deixar o acusado.


AUTOMOTIVO De acordo com a investigação da PF, a quadrilha da qual Wilson fazia parte era especializada em som automotivo. A operação que culminou na prisão do grupo e na morte de um de seus integrantes iniciou-se logo após a tentativa de latrocínio que vitimou o escrivão. A pista inicial que levou ao grupo foi um veículo Chevrolet Monza de cor clara, visualizado por testemunhas e filmado pelo circuito interno de vigilância de duas empresas na Avenida T-63.A ocorrência que registrou a morte de Wilson no Posto da Polícia Civil do Hugo foi encaminhada na tarde da terça-feira por fax para a Delegacia de Homicídios depois que a reportagem do HOJE informou na 1ª Delegacia Regional que a suposta troca de tiros com a PF ocorreu no Setor Pedro Ludovico, em Goiânia, e não na Vila Brasília, em Aparecida de Goiânia, como foi erroneamente registrado. A ocorrência já estava na 2ª Regional, responsável por Aparecida, que a encaminharia para o 2°DP. (GP)