Trabalho - Retirada dos corpos não foi difícil devido à transparência das águas do córrego. Falta de correnteza facilitou encontro das cinco vítimas da fatalidade ocorrida em Goiânia
Cristiane Lima, Da editoria de Cidades
Cristiane Lima, Da editoria de Cidades
O que começou como uma brincadeira terminou em tragédia. Os cinco amigos João Marcos de Sousa Pacheco, 12, os irmãos Douglas Gonçalves Pereira Rosa, 10, Thiago Gonçalves Pereira Rosa, 8, e os também irmãos Matheus Araújo Aguiar, 8, e Lucas Araújo Aguiar, 6, saíram para se divertir num banho no Córrego Cascavel na manhã de ontem e todos se afogaram. A menor Sabrina da Silva, 9, disse que viu quando os meninos desceram o barranco para chegar no córrego.
Era de manhã, por volta das 10 ou 11 horas, e eu ainda gritei para eles não irem, porque lá é sujo e perigoso. Eles só olharam para mim e continuaram a descer.Mesmo sem o consentimento dos pais, os meninos eram acostumados a irem se refrescar no local, que já foi palco de outras tragédias. A última ocorreu há seis meses, quando o adolescente Dimas Dias dos Santos, 15, desapareceu nas águas do córrego enquanto tomava banho sob a ponte que divide os setores São José e Campinas. A equipe de resgate demorou dois dias para encontrar o corpo, que estava preso a entulhos no fundo do rio e por causa da chuva que caíra no dia anterior e tornara a água escura e revolta. A tragédia deste domingo também ocorreu no Setor São José, a alguns metros deste último acidente fatal.
Só que, desta vez, não havia correnteza e a água estava mais clara. Não havia testemunhas no local. A polícia e os Bombeiros foram acionados por volta das 12h45 por pessoas que passavam e viram dois corpos de crianças boiando. Os outros três foram encontrados mais adiante do local de resgate dos dois primeiros. Populares, no entanto, sugeriam hipóteses como a de que um deles se afogava e os outros tentaram ajudá-lo. Outro palpite das pessoas que estavam ali era de que eles poderiam não saber a profundidade do córrego e, ao pularem, não conseguiram se sustentar.
Segundo informações do Corpo de Bombeiros, o lugar do acidente tem três metros de profundidade.Moradores do Bairro São José, os amigos compartilhavam um sonho: o de serem jogadores de futebol. Para tanto, faziam aulas numa escolinha da região. João Marcos de Sousa Pacheco, o mais velho de todos, com 12 anos, morava no local desde que nasceu. Cursava o 7° ano e só pensava em ser jogador profissional. O primo Victor Hugo de Sousa Utida foi à casa da família confortar os parentes e contou que João Marcos nunca fez aulas de natação, mas sabia nadar.
A mãe do garoto, Lucilene de Sousa Pacheco, estava transtornada e não conseguia sequer ficar de pé. Aos prantos, permaneceu por horas abraçada à outra filha, de 20 anos. Está doendo muito. Era meu menino. Como vou fazer agora? O pai do menino, João Marcos Ferreira Pacheco, foi ao local da tragédia acompanhar o resgate dos corpos. Ele diz que soube do acidente e correu para o local. Me disseram que o João Marcos também estava no meio, mas meu coração não queria acreditar. Quando chegou ao lugar, viu que quatro dos cinco garotos já haviam sido retirados da água. Olhei, e dei graças a Deus que meu menino não estava ali. Mas nem bem eu respirei aliviado, os bombeiros avisaram que tinham encontrado outro corpo. Perdi o chão porque sabia que era meu menino, disse, entre lágrimas.Até o fechamento da edição, os corpos de duas crianças não haviam sido liberados, devido à falta de registro de nascimento.